Qual o limite entre o "eu" que criamos para os outros e o nosso verdadeiro "eu"?
Há anos atrás, havia vários Leonardos na minha vida. O que se comportava como um anjo em casa perante os pais, o aluno CDF, o adolescente que ia pra matinê com os colegas do colégio pra apostar quem “pegava” mais garotas, o que procurava homens, o coroinha com cara de santo ao lado do padre toda semana na igreja, o que tinha uma namorada, o que tinha um namorado, etc... Perco as contas.
Como já falei de outras vezes isso mudou basicamente após eu ter entrado na UERJ. A convivência com pessoas iguais a mim e com pessoas que, mesmo sendo diferentes, me aceitam fez com que minha vida mudasse cem por cento. Vários dos Leonardos citados anteriormente morreram, outros se juntaram e passaram a ser a mesma pessoa. Mas ainda há uma divisão dentro de mim que precisa acabar, mas não sei por onde começar esse processo: o Leonardo que é uma ficção para satisfazer os desejos e expectativas da mãe (só dela, porque em relação ao meu pai nunca tive essa preocupação) e o Leonardo real, o mesmo que namora, que tem amigos, trabalha, se diverte, passeia, estuda, etc...
Gostaria que esse Leonardo real pudesse existir também dentro da minha casa. Digamos que tenho tratado o assunto nos dois últimos anos como um processo lento e gradual. Acho que essas coisas vêm acontecendo aos poucos. Quem já me conhecia há dois anos atrás fica espantado como as coisas mudaram. A viagem pra Bariloche é a maior prova. Acho que talvez minha mãe já esteja começando a se acostumar com a idéia. Mas acho também que ainda é algo muito superficial que se passa na cabeça dela. A vontade de transformar tudo o que ela têm pensado em mentira não a deixa encarar o problema de frente.
Talvez a maior dificuldade em tomar uma decisão em relação a isso seja destruir os sonhos da pessoa que eu sei que mais me ama no mundo, da pessoa de cuja vida eu sei que sou o centro. Destruir esse mundo dela pode custar muito. O preço pode ser alto demais. Mas aí entra outro problema: enquanto eu tento não destruir o mundo dela, enveneno o meu. Talvez isso seja apenas uma característica do amor, até porque quando amamos, preferimos o nosso mal ao da pessoa amada.
Bem, vou parar de filosofar. Tenho de certeza de apenas uma coisa. Essa história vai se resolver bem antes do que eu imaginava há algum tempo atrás.
Às vezes procuro qual é o limite entre essas duas pessoas que existem dentro de mim. E para o meu alívio e alegria, o limite tem sido cada vez menor, o que significa que elas estão aos poucos conseguindo se transformar em uma pessoa só. Acho que finalmente estou me tornando uma pessoa de verdade.
PS: A viagem foi muuuuuuuuito boa. Já estou com as fotos digitais. Vou gravar um CD e entregar para quem estiver a fim de ver. Depois as pessoas vão se revezando. Só tenho que agradecer ao Denis e a Deus sempre.