Thursday, April 14, 2005

20 Anos

Há alguns dias, eu completei 20 anos de existência. E resolvi pensar no que eu vivi até hoje e o que eu aprendi nesse tempo.
Sobre a minha infância eu não tenho muito para falar porque foi bem normal. Brinquei bastante, embora fosse meio CDF. Mas é nessa época que a gente começa a desenhar nossa personalidade.
A minha adolescência chegou com uma certeza que me doía todos os dias. Eu sabia que era homossexual, mas a minha religião não me permitia. E eu achava que estava doente. Busquei de todas as formas a cura. Não achei. Porque não há. Porque não é uma doença. É uma característica do ser humano. Mas foi muito difícil entender isso. Eu só comecei a me aceitar depois que passei a ir a um psicólogo. Óbvio que o motivo para minha mãe pagar um psicólogo para mim era outro. Ela achava que era por causa doas brigas entre ela e meu pai que eu não estava bem e queria um médico. Eu só sei que eu fui e passei a me entender, a entender meu corpo e minha mente.
Até então, era tudo muito confuso. Eu era católico fervoroso, coroinha, mas mesmo assim já tinha contatos com outros homens desde o final dos meus doze anos. Só passei a ter uma vida sexual mais completa a partir dos quinze e principalmente depois dos dezoito. Justamente quando me afastei mais da Igreja. Não dava para conciliar as duas coisas. Mas só deixei de ir à missa no fim do ano passado. Não consigo mais acreditar num Deus que me faz homossexual e me pune por isso. Enfim, dizem que a inteligência é a inimiga da fé. Só sei que não perdi a fé em Deus. Perdi a fé na Igreja e nos homens que a compõem.
Sobre a minha relação com meus pais, eles “não sabem” que sou gay. Aliás, não sabem muito de mim. Eles sempre brigaram bastante entre si e isso sempre me incomodou muito. Mas o que mais me incomodava era ter que entrar pelo portão de casa, esquecer meus problemas pessoais, enxugar as lágrimas e fingir não ter nada. Fazer um teatro, usar uma máscara, o que me irrita profundamente. Mas tenho certeza que em pouco tempo isso vai mudar. Ma apesar disso tudo, amo meus pais. Não sei exatamente o porquê. Mas sei que amo. Principalmente minha mãe. Meu pai sempre esteve muito distante de mim e nunca foi de muito carinho. Também nunca consegui ver meu pai como exemplo de pessoa a seguir. Por isso que eu sempre me identifiquei mais com minha mãe, apesar do sentimento de posse que ela tem por mim.
Sobre meus relacionamentos pessoais, todos contribuíram muito para a pessoa que sou hoje. A cada um, aprendi mais sobre o que se deve ou não fazer num relacionamento. Em vinte anos, aprendi a ser fiel, e entender que fidelidade não é um sacrifício pelo próximo, e sim uma vontade própria de respeito em relação ao outro. Aprendi a entender que as pessoas são muito diferentes e que se não cedermos num relacionamento, ele acaba. Aprendi que não devemos brigar por coisas banais (falarei mais detalhadamente sobre isso em outro post), porque enquanto brigamos, perdemos tempo e deixamos de fazer um carinho e dizer uma palavra bonita. Nesses vinte anos, aprendi a diferença entre paixão e amor. Você pode me perguntar como. E eu te responderei: “sentindo”. Já tive várias paixões, mas só um amor. Na paixão, você se entrega rápido, mas você sai rápido dela também. Já o amor, a gente não constrói em um dia. Demora. Em compensação, ele não tem fim. Se você me perguntar se uma pessoa é capaz de ter mais de um amor verdadeiro na vida, não saberei responder. Mas tenho esperança que sim. Se eu não tivesse, já teria me jogado pela janela. Amar é muito mais que querer bem, é querer viver com aquela pessoa, é querer dar a própria vida por ela. É ter a capacidade de se sentir feliz ao extremo por um simples olhar ou um simples toque do outro. Amar é pensar em alguém vinte e quatro horas por dia, é sentir seu corpo estremecer a cada momento que você apenas imagina que vai encontrar a pessoa amada. Amar é isso e muito mais. E eu, posso dizer com certeza, sei o que é amar. Mas nesses vinte anos, além de saber o que é amar, descobri também o que é perder um amor. E mais, aprendi, ou melhor, estou aprendendo como levantar a cabeça e seguir em frente. Descobri que quando um relacionamento amoroso acaba (sem rancores), independentemente do amor ainda existir ou não, um lindo caminho para uma eterna amizade se abre.
E a UERJ... Ela é tudo na minha vida. Eu mudei drasticamente depois que fui para a faculdade. Graças, em especial, ao Ricardo, que foi uma pessoa que mudou muito a minha maneira de pensar e encarar minha sexualidade. Com ele tive coragem de ser eu mesmo e não mais esconder quem eu sou. Outras pessoas que conheci na faculdade também me influenciaram muito positivamente. Pela primeira vez pude conviver num meio de heterossexuais que me respeitavam. Isso foi uma das melhores sensações que eu já tinha sentido na minha vida: poder ser eu mesmo, sem mentiras, sem farsas. Na UERJ, aumentei minha lista de amigos verdadeiros, que era tão reduzida (e os amigos que tenho fora da UERJ também são, relativamente, recentes). Graças ao Ricardo e à UERJ, eu também deixei para trás pessoas que me fizeram muito mal e passei a conviver com pessoas que me fazem muito bem. Que transmitem muita paz e alegria para a minha vida. Aprendi que a amizade pode ser o relacionamento mais precioso para o ser humano e não um namoro ou um casamento. Porque o amor entre amigos é mais puro: há menos ciúmes, menos brigas, menos intransigências. Descobri que sei viver sem namorado, mas não sei viver sem amigos, porque eles são minha base para a felicidade. Descobri que ser amigo é compartilhar sua vida, seus problemas e alegrias. É sentar, conversar e rir ou chorar junto sempre que necessário. Descobri que preciso vê-los felizes para ficar feliz também.
Completei vinte anos e me sinto feliz. Sou feliz. Sei que tenho dias de sol e dias de chuva, mas estou aprendendo a, até mesmo nos dias de maior temporal, levantar a cabeça, rir e dizer que sou feliz. Li ontem no blog do Ricky (www.diariodeummago.blogger.com.br) um poema (principalmente a segunda estrofe) que me fez lembrar de uma coisa que eu tinha esquecido: A pessoa mais feliz não é a que tem menos problemas, mas a que sabe superar ao máximo todos os que tem. E é com esse espírito que me preparo para os próximos vinte anos, com um lema na cabeça: ser feliz, amar sempre todos que fazem parte da minha vida (amigos, pais, namorado, colegas) de forma sincera sempre, amar a vida, agradecer a Deus todos os dias por tudo que tenho, principalmente amigos e saúde, e viver em extrema alegria como se todos os dias fossem o último, e encarar essa nova época sem farsas, mentiras, nem máscaras. Esse sou eu.

Um beijo no coração de todos.
Léo

8 Comments:

Anonymous Anonymous said...

Oi Leo,

Estou feliz q no seu balanço de 20 anos vc esteja feliz. Ainda não fiz parte da sua vida tempo suficiente pra fazer diferença, mas espero que nos próximos 20 sua felicidade seja redobrada, e q uma parte dela seja por minha causa. =) Aconteça o q acontecer. Pelo pouco q eu te conheço sei que vc merece tudo de bom na sua vida e muito mais. Beijos, gatinho, de alguém que antes e acima de tudo já é seu amigo.

8:37 PM  
Anonymous Anonymous said...

AH!!!!!!! eu nem acredito consegui finalmente comentar no seu blogger! tipo parabens mesmo, desculpe eu tenho sido um amigo meio ausente, mas é tanta coisa que tem acontecedio, já fazem 2 meses que não nos vemos, isso é horrivel né, mas mesmo assim de todo coracao eu espero que vc consiga alcançar tudo qoue vc deseja. sempre estarei de braços abertos para receber um abraço seu, um grande beijo, juízo, e ve se escreve menos que to com dor de cabeça de tanta coisa que eu li

9:16 PM  
Anonymous Anonymous said...

Ai! eu to ficando viciado agora eu não consigo mais para de comentar, parem com isso! NÃÃÃOO!!!
Meus parabens, desculpe se eu esqueci dessa data tão importante que é seu aniverssario,pra falar a verdade acho que eu nem sabia, mas como vc vai ter que me aturar o restida vida vão ter muitos outros. precisamos converssar

9:19 PM  
Anonymous Anonymous said...

Gostei muito desse post! Achei muito bom mesmo. Parabéns de novo pela pessoa que você é! A UERJ tem sido um lugar bom pra todos nós. E, ao contrário de você, antes de entrar na UERJ nao tinha amigos homossexuais, sei la, achava estranho. Agora não há problema nenhum, amigos são amigos e pronto!

Tudo de bom aí na vida!

Thiago Ponce

12:40 AM  
Anonymous Anonymous said...

Nossa, esse é o Léo! Sabe q pode contar comigo sempre né! Te amooooo!!! Só naum vou poder colocar os corações q eu disse q iria colocar... acho q aqui naum dá... rs... :S Bjosssss

Gus

1:15 PM  
Anonymous Anonymous said...

Mas há a vida
que é para ser
intensamente vivida,
há o amor.
Que tem que ser vivido
até a última gota.
Sem nenhum medo.
Não mata.
Clarice Lispector

Adoro vc meu amigo.
Natália

5:15 PM  
Anonymous Anonymous said...

Caramba...
Tem muitas partes do seu texto que eu comentaria, mas prefiro fazê-lo quando te ver...
To feliz por saber q vc ta tentando superar seus medos, rancores e frustrações... Aquele dia em q eu e a Lilla te encontramos no corredor vc não tava nada bem... mas vejo um novo Léo aparecendo.
Não desista do que vc acredita!
Deus não é o que te passaram na igreja... Deus te aceita... não sei... esse é um tópico q é melhor comentar pessoalmente!
Parabéns de novo!
Pode contar comigo hein rapaz... vc realmente me fez jogar no lixo qlqer tipo de preconceito q existia em mim!
Fico feliz por saber lidar com "o diferente" hoje em dia!
abração!

Davi - UERJ

6:46 PM  
Anonymous Anonymous said...

...Pronto,comentei,,,
Fiquei feliz por ter lido isso,,,e por saber q vc encara muitas coisas de uma maneira positiva,,, Q bom q contribuí para isso,,, Saiba q vc tb contribuiu em mtos aspectos... mas eu acho q vc sabe, pois já conversamos,,, Bjus na alma.

Ricky

9:07 AM  

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