Sunday, March 26, 2006

O Mago dos Significados: Guimarães Rosa

Os nomes das criaturas rosianas não são meros indicadores de identidade, mas são significativos, de acordo com o papel que cada um irá desempenhar na narrativa.
Em "Grande sertão: veredas", Riobaldo (um rio que não flui, mas se fecha no baldo) guarda em seu nome o do Diabo. E Diadorim encerra o diá, como tanto o demo quanto o personagem são chamados na narrativa. Um exame mais de perto revela ainda que, na própria escolha das palavras usadas, os nomes próprios reverberam em rimas, aliterações e alusões.
Em "O recado do morro", o vaqueiro Pedro Orósio faz uma viagem pelo sertão. Alguns de seus companheiros preparam uma cilada para matá-lo. Ele só escapa porque o morro lhe manda uma mensagem construída ao longo de uma semana (de sete etapas). Pedro com pedra, Orósio como oros (montanha), também conhecido como Pê-boi, pé na terra. Da terra recebe o recado. Durante a viagem, percorreu as fazendas de Apolinário, Nhá Selena, Marciano, Nhô Hermes, Jove, Dona Vininha e Juca Saturnino. Em companhia dos Vaqueiros Helio Dias Nemes, João Lualino, Martinho, Zé Azougue, Jovelino, Veneriano e Ivo Crônico. Assim enfilerados, dá pra perceber o que no texto vem diluído: a alusão aos dias da semana (tais como são nomeados em outras línguas) e aos deuses aos quais são dedicados: Apolo/Sol; Selene/Lua; Marte, Mercúrio/ Hermes ; Júpter, Vênus, Saturno/Cronos. O que acontece em cada fazenda tem a ver com cada deus dominante (beleza, festa, guerra, comércio/mensagem, poder e fartura, amor, tempo). Mas a terra escapa. O recado é decifrado por Pedrão Chãbergo (chão e berg, rocha em alemão).
Em "Buriti", tudo gira em torno dopatriarca viril, o grande eixo, sempre cpmparado à palmeira. O nome do personagem é Lindoro Maurício Faleiros. E o nome científico da palmeira é Mauritia vinifera. É o mundo vegetal cheio de mulheres com nomes de plantas, como Dionélia, Leandra e Alcina.
Em "Cara-de-bronze", se dilui o próprio autor. O nome do vaqueiro Molmeichego é a soma a palavra "eu" em quatro línguas diferentes: moi, me, ich, ego. E os comentários ao pé da página são feitos por um Soares Guiamar, anagrama de Guimarães Rosa.
Os exemplos são inesgotáveis. Mas são apenas um fio a se puxar, de tantos que formam o texto de um autor transbordante e incontível.

(Adaptado do caderno "Prosa e Verso" do jornal "O Globo" de 11 de março de 2006)

PS: Odara, obrigado pelo comentário no último post.

4 Comments:

Anonymous Anonymous said...

Q complexo isso...
Calma aih q eu vou ler de novo. =P

2:20 PM  
Anonymous Anonymous said...

Q complexo isso...
Calma aih q eu vou ler de novo. =P

2:21 PM  
Anonymous Anonymous said...

ano d guimarães bombando!!

ricky

9:24 PM  
Anonymous Anonymous said...

Oi Lindo!
Que texto rico! Além de didático e interessante. A associação feita pelo Guimarães, do cenário rural com a mitologia grega é esplêndido. A única dificuldade que teríamos seria de percebermos esta riqueza de menções. Confesso ainda não ter "mergulhado" neste conto, ou em qualquer outro do autor. Também devo confessar que não aprecio temas,que retratam o rural. No entanto me senti atraída pelo seu comentário sobre "Grande Sertão: Veredas". Pretendo lê-lo logo após a minha enxurrada de textos já propostos para este semestre. Ahaahahah!

10:00 AM  

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