Apenas me guarde na memória como a luz que sempre te acompanhou!

Joana estava em seus últimos minutos, e ela sabia disso Respiração fraca, coração lento, pele enrugada Talvez pelos seus anos de dedicação a Carlos e a tudo em sua vida, já que se dedicava a cada tarefa com um afinco inacreditável Foram quase cinqüenta anos juntos, compartilhando a mesma casa, os mesmos objetos, a mesma cama, as manias Cinqüenta anos de um amor que a fez abandonar sua família Jamais aceitariam que ela vivesse com um negro suburbano Carlos nunca se sentiu culpado por fazê-la tomar essa decisão Ele sempre soube que tudo terminaria bem Costumava prever as coisas que iam acontecer Ela o conhecia pelo olhar, gestos e sabia o significado de cada movimento que seu corpo fizesse.
Sempre foi um amor adulto pela seriedade, adolescente pela alegria, infantil pela sinceridade.
Eles nunca tiveram filhos, não porque não queriam Simplesmente não aconteceu Mas isso nunca foi um problema: eles se autocompletavam.
Naquele momento, Carlos olhou em seus olhos, passou a mão em seu rosto, fez aquele carinho único e disse Como vou viver agora? Em quem vou fazer carinho quando acordar? A quem vou dedicar minhas preocupações? A quem vou dar boa noite? Como posso viver sem olhar para você e sem lhe dizer que a amo como a mais bela das coisas que poderia sonhar em ter na vida? Foi quando Joana segurou nas suas mão e falou manso Apenas me guarde na memória, não como uma coisa boa que você perdeu, mas como a luz que sempre te acompanhou e vai continuar te acompanhando em qualquer lugar ou vida que venha a estar Sorria todas as manhãs quando agarrar meu travesseiro e sentir meu cheiro, festeje todas as tardes quando sentir minha presença em cada coisa que ajudei a você conquistar, agradeça todas as noites pela vida que tivemos juntos Estarei te esperando.
Joana fechou os olhos com a mesma calma que teve durante toda vida Caiu uma lágrima dos olhos de Carlos Ele sabia que ela estava bem.